O suco de maracujá é o terceiro mais consumido do País, mas a incidência de uma virose na planta tem afetado há pelo menos uma década a produção do fruto na Capital Catarinense do Maracujá, Araquari, no Norte de Santa Catarina. Hoje, o reconhecimento é uma herança do passado, ainda nos anos 2000, quando havia mais de 60 produtores e 100 hectares (ha) de plantação ante os 32 produtores atuais, em 25 ha de área. Mas, se depender de uma pesquisa liderada pelo Instituto Federal Catarinense (IFC), os agricultores passam a contar com um estímulo para impulsionar a atividade e defender o título no Estado – hoje, a produção da fruta se destaca no Sul catarinense.
O projeto iniciado há cerca de um ano em parceria com entidades como a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (Cidasc) e Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) tem como objetivo fazer uma avaliação da adaptação de novas cultivares de maracujá na região, além de incentivar o controle da praga existente. Conhecida como a virose do endurecimento do fruto, é ela uma das responsáveis pela queda do cultivo na região.
De acordo com o professor Rodrigo Martins Monzani, que lidera o projeto, a virose se estabeleceu na cidade há cerca de 12 anos, provavelmente a partir de mudas trazidas de fora pelos produtores, e se alastrou. Como não havia nenhum estudo de controle do inseto transmissor (afídeo) ou existência de tratamento que eliminasse a virose, muitos produtores migraram para outras culturas, como do arroz, da mandioca e da banana. O cultivo da planta também passou de perene a anual, o que desestimulou e pesou na redução das áreas de plantio.

O caminho agora é utilizar a pesquisa como aliada para recuperar a produtividade e a qualidade do maracujá em Araquari, afastando a presença da virose. Depois de análise do fruto em laboratório, por exemplo, a proposta é divulgar os resultados conquistados em artigos científicos, programas de extensão, dias de campo e para a própria prefeitura. A tendência é de que haja orientação ao produtor de forma adequada, tanto de produção, quanto do manejo correto das mudas, a fim de evitar que a virose alcance as novas plantações e restabeleça a relevância da produção de maracujá na cidade.
— Mantemos seis cultivares em uma área de um hectare aqui no campus de Araquari, dentre as quais estamos verificando qual mais se adapta ao local. A intenção é o fortalecimento do cultivo, mas primeiro temos que trabalhar com mudas de qualidade e evitar a transmissão do vírus aqui dentro do pomar. Temos várias linhas de frente e, entre as cultivares, temos observado que algumas são mais tolerantes à presença do vírus, apesar de ainda suscetíveis — afirma o pesquisador.
De acordo com Luciano Alves, coordenador do curso de Agronomia do IFC, o próprio produtor tem formas de evitar a entrada da virose na lavoura. Para isso, são necessárias atitudes como a aquisição de mudas de qualidade, com procedência reconhecida e certificada, além do feitio do tratamento fitossanitário dos pomares para evitar o aparecimento do inseto transmissor. Outras indicações são a preferência por mudas de maior porte; eliminação das plantas que contenham os sintomas da doença; e respeito do tempo de vazio sanitário da área de cultivo entre uma safra e outra (30 a 50 dias).
Pouco impacto para o consumidor e maior potencial de negócio
Ainda de acordo com os pesquisadores, especificamente a virose deixa o fruto deformado, com casca dura, tendo de 1,5 centímetro (cm) a 2 cm de espessura (costuma ser de cerca de 8 milímetros a 1 cm), e não tem polpa. As folhas apresentam coloração modificada e aparência enrugada. No entanto, dificilmente os frutos nessas condições chegam até o consumidor. Também não há nenhum risco para quem consome o maracujá.
Quanto aos produtores, hoje o manejo é mais dispendioso, porque geralmente no segundo ano de cultivo havia maior produtividade e, agora, como a recomendação técnica é de cultivo anual, tem afastado os agricultores. Porém, a aposta é de recuperação de mercado com a proteção do pomar e o manejo apropriado da lavoura, que possibilitam garantir boa produção e alto rendimento. Em determinados períodos do ano, o valor do produto chega a quase R$ 10 a unidade, acima do preço unitário de outras culturas regionais.
Outra possibilidade, conforme Luciano Alves, é agregar valor por meio da venda do maracujá em polpa. Também são fontes de investimento o uso na culinária, como princípio ativo calmante e também com o uso da casca na produção de farinha. Neste caso, o fruto é utilizado como auxiliar natural para a perda de peso.
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