As histórias de elevador têm pelo menos uma coisa em comum: na maioria das vezes, começam e terminam pelo meio, abrindo espaço para o livre pensar sobre suas origens e seu eventual desfecho, independentemente das razões e do destino dos seus protagonistas.
Quando a porta se abriu, no segundo andar, vi a menina, uma estudante do primeiro ano do ensino fundamental, implorando pela interferência do pai, sem que eu pudesse entender, em princípio, qual era o motivo.
– Se você pedir, ela deixa – choramingou a menina.
– Não adianta, minha filha – disse o pai, com pouca paciência. – Essas são as regras da escola.
A menina estava inconformada.
– Mas pai, se não estiver rindo – não sou eu, não é?
– Você precisa entender que não pode sorrir na foto.
O pai silenciou, não sei se em busca de um argumento que soasse mais convincente (e que parecia não encontrar entre as ideias disponíveis naquele momento) ou no aguardo de que a passagem do tempo fizesse o favor de distrair a filha com algum outro interesse que a levasse a se esquecer do pleito inglório.
A menina também calou-se. Mas seu olhar desconfiado, longe de desistir da questão levantada, transparecia a dificuldade em compreender a lógica do mundo. O irmão pequeno, que agora arriscava os primeiros passos, não era sempre estimulado a sorrir para qualquer um que lhe fizesse graça? Ela presenciava isso todos os dias, desde que o bebê chegara em casa.
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E não era só isso. A mãe fizera questão de registrar no álbum do bebê o dia, a hora e as testemunhas de seu primeiro sorriso. Desde então, não economizava fotos (que depois se espalhavam em porta-retratos pela casa) cada vez que o neném encontrava uma maneira diferente de expressar sua felicidade.
– É tão bonitinho – repetia sempre.
– Pois é, mas depois que cresce deixa de ser – concluiu a menina, encolhida em um dos cantos do elevador. Não era de hoje que já estava cansada de ter hora para tudo: para acordar, para comer, para fazer tarefa, para tomar banho. E, agora, até para sorrir.
Olhou o pai de baixo para cima, achando-o tão comprido quanto triste.
Atribuiu a situação pouco animadora à mesma causa de seu desgosto: as malditas regras, que se já atrapalhavam as crianças médias, como ela, deviam ser ainda mais malvadas com os adultos.